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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Por que votar em Mercadante?



por Vinícius dos Santos - Doutorando em Filosofia (UFSCar - Universidade de São Carlos - SP)

Saber a ficha corrida de um candidato é um aspecto essencial na hora de escolhermos em quem depositar nosso voto. Mas, o que está em jogo, na hora das eleições, não é apenas uma disputa entre qualidades individuais mais aparentes (isto é, não se trata de escolhermos o melhor orador, o mais simpático, etc.). Especialmente, quando se trata de cargos executivos. Mas, é fato que temos, no Brasil, a tendência a particularizar nosso voto, e, em geral, damos pouca importância ao que está “por trás” do candidato – desde suas propostas mais concretas, ao staff que o acompanhará no governo, passando por algo que entendo ser fundamental na escolha de nossos governantes, pois é, afinal, o que orientará seu governo: sua visão global sobre a sociedade e sobre o futuro. Por isso, esse texto não tratará da pessoa de Mercadante, que tem defeitos e virtudes como todos – mas, sobretudo, tem aquilo que deveria ser uma obrigação de todo postulante a um cargo público: é ético. Nem fará um balanço de sua atuação como senador, e seu papel (muito importante, diga-se de passagem) no sucesso do governo Lula. O que pretendo, é falar um pouco sobre o projeto político que, neste momento, o estado de São Paulo necessita urgentemente – e que, dentre os candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, apenas Mercadante poderá, de fato, executar.


Sempre acreditei que, no caso brasileiro, há duas vertentes que devem orientar todo e qualquer projeto político progressista para o país: diminuir ao extremo a desigualdade social e melhorar a educação (no sentido amplo do termo) em todos os níveis. Em São Paulo, esses dois eixos foram bastante negligenciados ao longo dos 16 anos de governo do PSDB neste estado.


São Paulo é o estado mais rico do país. No entanto, nossos níveis de desigualdade não são menores que a média brasileira. E mesmo considerando que essa média tenha efetivamente diminuído nos últimos anos, a melhora nacional nesse quesito, nada, ou quase nada, teve a ver com as políticas públicas tucanas. Pelo contrário. Em São Paulo, não há uma política consistente de diminuição da pobreza e do fosso que separa ricos e pobres. A solução do PSDB (e de seu fiel escudeiro, o DEM) passa bem longe de tentar erradicar o problema. Lembremos, por exemplo, que quando prefeito da capital, Serra autorizou seu secretário de governo a instalar tapumes e fechar viadutos de SP, com o intuito de impedir que mendigos dormissem debaixo das pontes. Uma espécie de higienização digna das velhas políticas fascistas. Esconder a pobreza resolve alguma coisa? Depende: para a elite (e para uma boa parcela da classe média) resolve. Afinal, o problema saindo de seu campo visual, deixa automaticamente de existir.


Contudo, o maior crime do governo tucano em São Paulo, foi o descaso com a educação. Aprovação automática, baixos salários para professores, baixo investimento em infra-estrutura e, 16 anos depois, São Paulo tem alguns dos piores índices de educação do país. É uma espécie de assassinato branco cometido com algumas gerações de jovens que, mal sabendo ler e escrever, saem da escola sem formação para o mercado de trabalho, para exercer sua cidadania, e para a vida. Se você não acredita, se acha que tudo isso é papo de petista, que Serra e Alckmim são grandes governantes, sérios, e que, como dito aqui tem trabalho bem feito e SP é um estado cada vez melhor, basta perguntar na propaganda oficial, para qualquer um, mas qualquer um mesmo, que já tenha tido a oportunidade de ministrar aulas em escolas públicas estaduais. Pense que, por trás de sua resposta, dos inúmeros alunos que seu interlocutor viu passando de ano sem saber absolutamente nada, não estão apenas estatísticas. Trata-se de milhares de jovens que, em um estado tão rico como o nosso, terão ou (tiveram) suas vidas comprometidas para sempre pelo absoluto abandono da educação paulista.


Novamente, porém, teremos a chance de começar a melhorar esse quadro. Destaco o começar, porque, como todos sabem, construir algo é um processo muito mais lento e gradual do que destruir. O projeto político de Mercadante é o único que caminha, de fato, na direção oposta ao que vimos em SP nos últimos 16 anos. É o único que realmente visa valorizar a educação (pondo fim à famigerada reprovação automática, valorizando o professor, equipando as escolas, promovendo e fortalecendo a cultura, dentre outras medidas), diminuir a pobreza e a desigualdade no estado, e fazer com que São Paulo possa aproveitar todo o potencial econômico e humano que tem. É o único projeto que prioriza o social, que não vê o estado como uma grande empresa feita para lucrar. Por isso, não se trata apenas de escolher entre Alckmim e Mercadante (ou qualquer outro candidato). Trata-se, na verdade, de escolher entre duas visões diferentes de estado; entre duas visões sobre o que é prioritário em um governo: se é o famigerado choque de gestão tucano, ou se é a preocupação em dar condições de vida melhor para a população.


A maior prova de que, para além de características individuais, a política é feita de projetos coletivos, vem justamente do plano nacional, comparando-se a atuação dos últimos governos na educação superior (aquela que compete diretamente ao executivo federal). Nos oito anos de governo do renomadíssimo sociólogo Fernando Henrique Cardoso (e direi isso com pesar, pois também sou formado em Ciências Sociais, e acho que FHC foi um dos expoentes dessa área), foram construídas 0 universidades; 0 extensões universitárias; 0 escolas técnicas. Sim, zero! No governo do operário Lula, aquele que não é poliglota, que nunca deu aula na Sorbonne ou escreveu livros analisando política e economia, foram criadas 10 novas federais (em SP, a UFABC); 45 extensões universitárias (em SP, a UFSCar – campus Sorocaba, a Unifesp – campus litoral); e 214 escolas técnicas. Isso não diz respeito apenas a méritos ou deméritos pessoais de Lula ou FHC, ou à evidente sensibilidade do primeiro para as causas sociais. Isso diz respeito, também, aos programas políticos de cada partido, à forma como cada um deles enxerga o futuro e o potencial do país.


Por isso, e diante de uma possível vitória de Alckmim já no primeiro turno, o que significa a possibilidade real de vivenciarmos mais quatro anos de completo descaso com a educação e com a parcela mais necessitada da população, é que entendo ser indispensável darmos nosso voto de confiança não apenas a Mercadante, mas ao seu projeto de governo para o estado de São Paulo, o único em consonância com o que o Brasil precisa para continuar mudando.

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