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domingo, 1 de agosto de 2010

Pela Volta dos Trens de Passageiros



HISTORICO DA LINHA: A São Paulo Railway - SPR ou popularmente "Ingleza" - foi a primeira estrada de ferro construída em solo paulista. Construída entre 1862 e 1867 por investidores ingleses, tinha inicialmente como um de seus maiores acionistas o Barão de Mauá. Ligando Jundiaí a Santos, transportou durante muito anos - até a década de 30, quando a Sorocabana abriu a Mairinque-Santos - o café e outras mercadorias, além de passageiros de forma monopolística do interior para o porto, sendo um verdadeiro funil que atravessava a cidade de São Paulo de norte a sul. Em 1946, com o final da concessão governamental, passou a pertencer à União sob o nome de E. F. Santos-Jundiaí (EFSJ). O nome pegou e é usado até hoje, embora nos anos 70 tenha passado a pertencer à REFESA, e, em 1997, tenha sido entregue à concessionária MRS, que hoje a controla. O tráfego de passageiros de longa distância terminou em 1997, mas o transporte entre Jundiaí e Paranapiacaba continua até hoje com as TUES dos trens metropolitanos.

A ESTAÇÃO: A estação de Paranapiacaba, aberta com o nome de Alto da Serra em 1867, é uma das mais cantadas em prosa e verso no Brasil e até no mundo. Feita para ser o pátio de operações do sistema de cabos implantado pelos ingleses em 1867, nela foi mais tarde, em 1896, construída uma vila para os funcionários da São Paulo Railway que com seu estilo inglês e sua beleza, aliada às belezas naturais do local, foi tombada pelo Patrimônio Histórico há muito tempo. Por volta de 1900, uma segunda estação, diferente e maior do que a original, foi construída. A estação primitiva, a original, entretanto, ainda pode ter o seu local identificado: segundo Thomas Corrêa, o local exato dela é onde hoje se encontra a subestação elétrica. Parte da beirada da plataforma de pedra é possível ver ainda. Em 1907, o nome da vila foi trocado para Paranapiacaba, "lugar de onde se avista o mar". O nome da estação, entretanto, permaneceu como Alto da Serra até 1945, quando foi alterado para Paranapiacaba. Há vezes em que se vai a Paranapiacaba e não se enxerga um palmo adiante do nariz, devido ao denso nevoeiro da serra. Exatamente ali, a linha começa a descer a serra. Do outro lado da linha, a vila continuou a se expandir, sem manter o estilo original, mas ainda é um apenas pequeno bairro afastado do município de Santo André. Em janeiro de 1981, um incêndio destruiu o prédio da antiga estação; desde 1977, entretanto, uma nova estação, mais simples, já estava funcionando em local próximo. A antiga estava desativada, e o fogo apenas apressou o seu fim. Era, entretanto, um prédio já descaracterizado em muitos aspectos. O relógio, salvo do fogo, foi consertado e colocado sobre uma nova torre ao lado do prédio novo. Muito se escreveu e ainda se escreve sobre a estação, que, de orgulho da ferrovia, transformou-se
em uma de suas vergonhas. Pelo seu imenso pátio estão espalhados esqueletos de carros e locomotivas antigas, novas, a vapor e diesel, carros de madeira e de aço e mais uma infinidade de equipamentos que sofrem com o abandono geral das ferrovias. Paranapiacaba era atendida até novembro de 2001 pelos trens metropolitanos da CPTM, que para lá iam em diferentes horários, mas não tantos quantos os que chegavam a Rio Grande da Serra diariamente. A partir daí, os trens somente passaram a seguir nos fins de semana para Paranapiacaba, e um ano depois, a suspensão total do trem para a vila acabou desagradando a muitos mas mantendo a triste tradição que a ferrovia mantém nos últimos cinqüenta anos: agradar somente a ela própria, não a seus usuários. Hoje muito se fala e pouco se faz pela tristemente bela Paranapiacaba. Em 2002, a Prefeitura de Santo André adquiriu a vila inglesa, mas não a vila ferroviária, que continua abandonada. "Eu cheguei a conhecer a Paranapiacaba com roseiras nos jardins. Eu aguardava o ano inteiro para que as férias chegassem, pois sabia que mamãe nos levaria de trem para Santos. Pararíamos em Paranapiacaba para esperar as manobras dos trens. Eles, em muito casos, eram divididos em comboios menores para poder descer, a cabo ou na cremalheira. Tudo isso, manobras, desmonte, descida da serra e recomposição dos trens lá embaixo em Raiz da Serra ou em Piassagüera, levava 50 minutos. Em Paranapiacaba, então, eu me lembro com saudades do sanduíche de mortadela. Não tinha igual. Aí, o tempo passou, eu cresci, a ferrovia descambou, a estação ali pegou fogo, fizeram uma feiosinha, a vila ficou semi-abandonada. Fiquei anos sem voltar lá. Agora, parece que está se recuperando, graças à iniciativa da Prefeitura de Santo André" (Nilce Balieiro, 13/11/2006).

Linha-tronco - km 30,300 (1935) SP-2654 Inauguração: 16.02.1867 Uso atual: fechada com trilhos

São Paulo Railway (1867-1946)
E. F. Santos-Jundiaí (1946-1994)
CPTM (1994-2001)

(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Renato Gigliotti; Paulo Augusto Mendes; Lourenço Paz; Jacobus Smit; Paulo Sérgio V. Filho; Wilson de Santis Jr.; Nilce Balieiro, 2006; São Paulo Railway: Relação oficial de estações, 1935; Guias Levi, 1932-79; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)

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